Estudo da UFSC e USP analisa bioacumulação de arsênio em ostras no Brasil e associação com bactérias resistentes. Saiba mais sobre contaminação ambiental.
Estudo da UFSC e USP analisa bioacumulação de arsênio em ostras no Brasil e associação com bactérias resistentes
Um artigo publicado na Food Research International com participação da Universidade Federal de Santa Catarina e liderança da Universidade de São Paulo analisou a bioacumulação de arsênio em ostras prontas para consumo no Brasil e sua associação com bactérias resistentes. Com foco em Cananéia, Santos, São Paulo e Peruíbe, no Estado de São Paulo, e em Florianópolis, a análise não abrangeu o risco imediato para o consumidor dos moluscos, mas apontou questões relevantes sobre ambientes contaminados e suas consequências.
O estudo identificou altas concentrações de arsênio total nas ostras e a presença de cepas bacterianas resistentes a antibióticos de prioridade crítica da OMS, incluindo Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli e, pela primeira vez em frutos do mar, Citrobacter telavivensis, bactéria oportunista descrita em 2021.
Contribuição científica para compreender os fatores ambientais em alimentos de origem marinha
“O que a pesquisa traz é uma contribuição científica para compreendermos melhor os fatores ambientais que podem impactar a cadeia produtiva de alimentos de origem marinha, como é o caso das ostras”, explica o pesquisador Gustavo Rocha, do Laboratório de Microbiologia Molecular Aplicada (MIMA).
“Os resultados reforçam a necessidade de atenção contínua à qualidade das águas utilizadas na maricultura, não apenas sob os critérios microbiológicos tradicionais, mas também considerando a presença de contaminantes químicos que podem favorecer desequilíbrios microbiológicos no ambiente”.
Impacto da pressão seletiva no ambiente marinho
Gustavo explica que o ambiente sofre com o que se chama de “pressão seletiva”. Isso ocorre, de acordo com ele, quando a sobrevivência de certos organismos é favorecida pelo meio em detrimento a outros.
“No caso das ostras e do ambiente marinho, a presença constante de contaminantes como antibióticos e elementos químicos, como o arsênio, funciona como essa pressão. Ou seja, só sobrevivem as bactérias que conseguem resistir a esses compostos”.
Genes de resistência e seleção de bactérias
O estudo destaca que o arsênio e outros metais pesados podem selecionar genes de resistência nas bactérias que compartilham o ambiente marinho com as ostras e são filtradas por ela.
Presença de arsênio no ambiente marinho e sua relação com bactérias resistentes
“Ostras são organismos filtradores e, por isso, têm a capacidade de acumular contaminantes presentes no ambiente, como metais pesados e microrganismos”, explica. Neste caso investigado, o que os resultados indicaram é que as altas concentrações de arsênio total refletem um ambiente ao redor dessas áreas de cultivo exposto a níveis elevados do contaminante.
Contribuição do Mima/UFSC na pesquisa
O Mima/UFSC participou da pesquisa com análises microbiológicas das ostras coletadas em Florianópolis, com foco na detecção e caracterização das bactérias resistentes.
“Esse intercâmbio científico possibilitou o uso de tecnologias de ponta, como o sequenciamento genômico, além de análises físico-químicas e microbiológicas de alta precisão, aprofundando a compreensão sobre a presença de contaminantes e microrganismos de relevância para a saúde pública”, completa Gustavo.
A presença de elementos químicos como o arsênio no ambiente atua favorecendo a sobrevivência e a proliferação de bactérias que possuem mecanismos de resistência tanto a químicos quanto a antibióticos.
O pesquisador indica que, com o tempo, essas bactérias se tornam dominantes e podem transferir seus genes de resistência para outras.
“Assim, mesmo que as áreas sejam classificadas como seguras sob critérios tradicionais, essas bactérias continuam circulando e se espalhando, o que representa um risco silencioso”.
Embora o estudo não avalie o risco imediato para o consumidor e não sugira ou indique que ostras não possam ser consumidas, ele aponta para a necessidade de preservação da qualidade ambiental. “O estudo não aponta um risco direto ao consumo, mas sim uma problemática ambiental mais ampla, que deve ser acompanhada com responsabilidade e cuidado por todos os setores envolvidos, incluindo ciência, governo e sociedade”, finaliza.
Tags: arsênio, bactériasresistentes
Fonte: noticias.ufsc.br